domingo, 15 de novembro de 2015

A Cumprir o Outono

 
 
 
 
 
 

Não vou 'squecer este outono
P´la sina ver alterada.
A Criação 'stá na mesma,
Morna, límpida e molhada.

Na marquise tenho as flores
'Inda a brilharem ao Sol,
Violetas perfumadas
E os antúrios arrebol.

Uma rosa pequenina,
Que encanta pela lindeza,
Olha pra mim altaneira,
De cima da minha mesa.

Lá fora 'stá uma arve
A enfeitar o jardim
Com folhagem amarela,
Todos os anos é assim.

As fruteiras rendilhadas,
De folhas secas vestidas,
Que logo se soltarão,
Pela viração, batidas.

E do outro lado, a tília
Que foi linda, harmoniosa,
Vai a perder a frescura,
Tendo florido odorosa.

Por perto 'stá S. Martinho,
Verão e castanha assada.
A beleza outonal
Breve será dissipada!
 
Maria da Fonseca

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Procissão das Velas (12.10.2015)



 



Chove na Cova da Iria
Na noite da Procissão,
AVÉ! AVÉ! AVÉ MARIA!
Saudam com devoção.

De chapéus-de-chuva abertos,
Vela acesa noutra mão,
Os peregrinos libertos
Entregam-se à oração.

A Virgem sobre o andor
De brancos cravos, radiosa,
É louvada com amor
Nesta noite piedosa.

Em Fátima todos rogam
Por saúde, paz, emprego,
E muitos são os que imploram
Por consolo e mais sossego.

Nossa Senhora proteja
Aqueles de que é Rainha,
E também ame e eleja
Quem vem de longe e caminha.

Pagam a sua promessa ,
Pela graça recebida
Ou penar que não regressa,
Oferta já prometida.

E continuam chovidas,
Terras da Cova da Iria,
Faces húmidas, sofridas,
AVÉ! AVÉ! AVÉ MARIA!
 
Maria da Fonseca


quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Chegada do Outono

 

 



O outono chega amanhã,
Estação dos meus encantos,
Nossas arves de manhã
Brilham ao Sol dos espantos.
  
O arbusto que cantei
Tem as folhas matizadas
E o aloendro que amei,
Ainda com flores rosadas.
 
As folhas de tons bem quentes,
Entre a ramagem viçosa,
São para mim os presentes
Por vos cantar, carinhosa.
 
Mas algumas já caíram
E rodam no chão ao vento,
Co'o calor do v´rão secaram,
Soltando-se sem lamento.
 
Todos os dias dif'rentes
As arves do meu jardim,
Como nós seres viventes,
Ledas por serem assim.
 
E a estação vai entrar,
Rogarei a nosso orago,
Quando chover e ventar
Não venha causar estrago!
 
Maria da Fonseca

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Fascínio do Mar


 
foto de Maria João Costa
 
 


Saudar este mar azul!
Logo que o vejo me espanta
Com o brilho generoso
Do Sol de v'rão que acalanta.

Revejo-o em cada ano
Sempre com a mesma alegria,
Este mar que me fascina
E realça a fantasia.

Mas nunca igual a si próprio,
Sua água em movimento
Corre, ondula e avança
Rolando a todo o momento.

Molha a areia da praia
A impor sua vontade,
Os grãos pequeninos rodam
E deslizam na verdade.

Recua depois e arrasta,
Com esforço bem maior,
Conchas e pedras roladas
Na espuma ao derredor.

Enquanto vai e regressa
Este mar, que assim me encanta,
Banha a nossa costa sul
E traz-me saudade tanta!
 
Maria da Fonseca


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Ameno Dia de Verão



O farto arbusto florido
Sobressai em tons de rosa
Junto às árvores cobertas
De ramagem generosa.
 

O ambiente é de luz
Ao meio dia solar,
Sopra uma aragem suave,
Põe as folhas a abanar.
 
  
Mais pequenas são as sombras
Bem na hora do calor,
Crescem ao correr do dia
Caminho do Sol se pôr.
 

A macieira deu fruto
Já há maçãs pelo chão,
Mas de certeza, vos digo,
Só aves as bicarão.
 

A tarde cai mansamente
Enquanto a luz dourada
Enche o jardim de magia
Com cada flor matizada.
 
 
E amanhã de manhã,
Quando à janela assomares,
Lindo buquê anilado
Lá 'stará pra te alegrares.
 
Maria da Fonseca

terça-feira, 14 de julho de 2015

Meu Pai

 
 
 
 
MEU PAI

 
Faz cento e dezasseis anos
Que o meu Pai foi nascido,
E, não havendo enganos,
Em data que nunca olvido.

Foi num catorze de Julho,
Que alegrou meus Avós,
Vindo ao mundo com o orgulho
De ser livre como nós.

Venho prestar-lhe homenagem
No dia do aniversário,
Ter sido homem de bem,
Pai extremoso e solidário.

Os conselhos que me dava,
Jamais os posso esquecer.
Era assim o que pensava
Pra me ajudar a viver.

Eu recordo comovida
Em qualquer lugar ou hora
Ensinamentos de vida
Ainda úteis agora.

E às minhas filhas e netos
Eu peço com muito amor,
Memorem nos seus afetos
O meu Pai, este senhor.
 
Maria da Fonseca


sexta-feira, 3 de julho de 2015

A Árvore Ferida





Noite fora acontecera
Sem termos dado por isso,
Não prevíamos, Deus meu,
Nem ouvimos reboliço.

Partiu-se co'a ventania
O ramo farto e pesado
Da árvore que encobria
O prédio do outro lado.

No tronco, o golpe sofreu
Que a mão do homem não fez,
A madeira apareceu
Ferida com rispidez.

A simetria desfeita
Da arve, que nos encanta,
Tornou-a assim imperfeita,
Mas 'inda tem graça tanta!

O ramo já o levaram,
Pedaços vários serrados,
Uma clareira deixaram
E alguns galhos espalhados.

'Stá agora a florescer,
Como se, não se perdera
Bela ramada a crescer,
Que de noite acontecera.

Tal como suas irmãs,
Copas coloridas, lindas,
Que olhas todas as manhãs,
Quer dar-te flores bem-vindas!
 
Maria da Fonseca

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Devoção a Nossa Senhora (13 de Maio de 2015)

 


Em nossa Cova da Iria
A Senhora apareceu.
A Mãe de Jesus, Maria,
Três pastorinhos benzeu.

 
Rápido eles contaram
Tê-La visto nesse dia.
A perfeição Lhe exaltaram
Com palavras de alegria.

 
A treze de Maio, assim,
Foi Fátima, a escolhida,
Pra receber em cetim,
A Virgem Maria querida.

No país irmão, Brasil,
Numa pesca enfraquecida
Surgira a imagem gentil
Da Virgem Aparecida.

 
Viram-Na três pescadores
Na rede, ao a elevarem
E rezarem por favores,
Para algum peixe apanharem.
 
 
O Paraíba desciam
E tendo a Senhora achado,
As redes quase cediam,
Tão grande fora o pescado.

 
Para ser entronizada,
Em Fátima, neste ano,
Sua Imagem Sagrada
Atravessou o oceano.

 
É uma das devoções
Que irmana os Santuários,
Parte das celebrações
Das Festas dos Centenários.

 
Faz três séculos que a Virgem
Os pescadores 'spantou,
E em Fátima também
Faz cem anos que chegou.
 
Os povos irmãos se encontram
Rogando a Nossa Senhora
Paz aos que se desencontram
E alivio à sofredora.

 
Grande a Fé na Mensageira,
A Nossa Mãe divinal,
Do Brasil, a Padroeira,
E Rainha em Portugal!
 
Maria da Fonseca


terça-feira, 12 de maio de 2015

O Sol da Primavera

 
 

 
 



A florir pra me agradar
'Stão na minha casa as plantas,
Rosas a desabrochar,
Beleza com que me encantas.

Vermelho antúrio chegou
Belo, vivaz e brilhante,
A primavera saudou
Sobressaindo elegante.

E pela primeira vez
Uma orquídea aqui nasceu,
Com suave timidez
Linda, abriu e aconteceu!

As violetas branquinhas,
Ansiosas de um afeto,
Erguem-se em cachos, juntinhas,
Visando o vaso completo.

O Sol procura beijá-las
Para as tornar mais formosas,
Nesta estação ajudá-las
A florirem zelosas.
 
Maria da Fonseca

sábado, 21 de março de 2015

Gaivotas em Terra

 
 
 
 
 
Lindas gaivotas vogando
Argênteas, puras, folgadas,
Nas águas dum Tejo vivo,
De ninfas endiabradas.

Outras voam rente ao cais
Onde o cacilheiro acosta,
A baloiçar inquieto,
Vindo da margem oposta.

Neste dia encantador,
Primeiro da Primavera,
Ver as gaivotas em terra,
Decerto é o que não se espera!

Tereis assim a certeza
De haver, no mar, temporal.
Logo mais virão as vagas,
Ameaça ao litoral.

É o tempo que está a mudar,
Apesar do céu azul,
Do belo Sol aquecer,
Da costa virada ao Sul…
 
Maria da Fonseca


domingo, 8 de março de 2015

Dia Internacional da Mulher

 
 

  



Neste Dia da Mulher,
Ser ativa, esposa e mãe
Mais qualidades requer
P´la crise que se mantém.

Deus lhe deu grande coragem,
É o ser que dá à luz,
E quantas vezes a imagem
Prá família que conduz.

Não está fácil viver,
Nesta época presente
Cabe à mulher resolver
Dia a dia, olhando em frente.

Luta p'la sua missão,
Encara os seus problemas
Com vigor e decisão
E não cede a estratagemas.

Não quer perder a esperança,
Procura espalhar o bem,
Transmitir a confiança
Que o Senhor lhe deu também.

Agora tem mais direitos,
Mas sujeita a mais perigos,
Há que respeitar preceitos
E afastá-la de inimigos.
 
Maria da Fonseca

quarta-feira, 4 de março de 2015

Nortada Forte




Nortada, como hoje sopras
Com tanta intensidade!
O sábado caprichoso
Iludiu minha ansiedade!

Sob um céu azul celeste
As nuvens esfarrapadas
Alindavam claro dia
De agressivas rajadas.

O Sol brilhava a esmo
A salpicar a paisagem
Do inverno seco e frio
Com as arves sem folhagem.

Nesta época do ano
Já costumamos ter flores
Mas agora nem as vemos
Nem prevemos suas cores.

Os rebentos da magnólia
'Stão ainda por abrir
E as folhas dos meus antúrios
Amarelas de afligir.

Esperemos novo sábado
Mais agradável e ameno,
Que o vento rode enfim
E venha um dia sereno.

Passearemos no jardim
A espreitar nossas plantas,
Corações em harmonia,
Pois com palavras me encantas.
 
Maria da Fonseca

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Regresso de Miguel Torga

 
 
(1907 - 1995)
 
 
Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! Minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!
 

 
Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.

 
 
Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.
 
 
Miguel Torga